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Genealogia


Subo ao topo íngreme da árvore
- não da vida -
da genealogia,
de meu nome e sobrenome,
do que sou.

Tenho as vistas baixas
pois se cansam os olhos
diante do plano
das coisas imutáveis. 

O abismo dessa vida
não é acidente.
- Querida...
é isso que se vê,
com olhos limpos
ou não.

Da raiz discreta,
incerta,
se acende um caule bambo,
que tremula,
que pende,
ao fim se sustentando.

Ramagens de verde-fosco
secam,
caem,
misturam-se
às flores que um dia plantei.

Tenho marcas nas mãos,
riscos de galhos.
Riscos sutis,
enquanto parte do tronco
que sou.

Antes que o tempo mude
e a arvore caia.
Antes que o ciclo natural aconteça
e lhe atire ao solo.

Farei daquela prece
apenas coro.
E ao norte
lançarei o meu voo,
por cima
das flores pardas.

ana tereza barboza

ana tereza barboza
Grafito y bordado en tela. 130 x 102 cm (2011)