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Pra lembrar que a vida...


Mesmo quando em frente ao espelho
a gente sente devagar
o correr do tempo em traças
corroer as nossas faces,
a canção da vida insiste
em nos embalar,
em nos fazer sonhar
com a eternidade.
E quando atinge a  vida o teu fim,
ela prevalece nos ouvidos da memória
superando como a música
o silêncio da saudade
daquele que vem e parte
para um infinito possível.
E em cada nota retomada
no palco do tempo passado,
a gente alcança em despedida
as vidas de nossas vidas
as vidas de outras vidas
em sinfonia memorável.

Trilhas, curvas, vias: um encontro

Ele e ela, perceberam-se de olhos fechados
ao anúncio do toque dos lábios.
E no impacto das coisas que fundem
compreenderam a lógica dos acasos.

Inspirando-se na dinâmica das danças,
fez-se a boca palco de improvisos.
E concebeu-se ali mesmo a presença
enigmática do movimento dos ritos.

- É a vida que se converte aos encantos
  das sereias e de seus turvos cantos
  que quando acordam seus acordes desviam
  a lucidez dos sentidos mais humanos.

E das suas bocas nasceram rios
e dos rios nasceram vida
inundando-as do começo ao fim
de curva em curva a cada trilha.

E no espaço reduzido com o tempo
brotou-se de repentino silêncio
dedos que inauguraram cadentes
o trépido toque dos tatos.

E dos seus dedos, pernas nasciam
e das suas pernas, bocas e olhos
e das suas bocas, mãos e cabelos
e nos cabelos dissolveram-se as horas
desprendidas da órbita dos tempos.

ana tereza barboza

ana tereza barboza
Grafito y bordado en tela. 130 x 102 cm (2011)