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Rubi


Há tempos que a vejo sofrer,
abafando o choro com as mãos
e a dor com o batom
cor rubi.

Quando criança
eu não detinha os versos.
Mas dos meus olhos
nasciam poesias
que escorriam.
Corriam meninas
na face.

Sem o disfarçe
e pouco a fazer.
Havia quem lesse
o lamento dos olhos?

Das dores que tive
o verbo engoli.
Reverberei.
A falta nutri.
Sobrevivi.

Me esforçarei hoje pra te acompanhar.

Mas o que tem
na sua cara de mãe
de alegria postiça
que eu devo aceitar
e não aceito?

É a sombra.
Marca da mão alheia.
Aquilo que em sua vida fértil
não se custa apagar.

Será que com os gritos
que na memória ecoam,
só eu ensurdeço
só eu que enlouqueço?

Há tempos que a vejo sorrir
abafando o grito com os dentes,
abafando a dor com as mãos,
desenhando a vida assim
riscada a batom
cor rubi.


ana tereza barboza

ana tereza barboza
Grafito y bordado en tela. 130 x 102 cm (2011)