Uma dedicatória...
Daqui a vinte anos farei o teu Poema,
não para que a flores pasmem e a vida finalmente atue.
É necessário esse mastigar de memória sem precipitações,
e perceber na matéria possuída aquilo que nela se fundiu:
a vida e o amor, em fragmentos.
Tanto amor,
tanta vida.
Pela minha mão escorrem os fatos que colhi agora pouco.
Vejo uma mão que é tua e que acena a partida.
Enquanto a outra, que aos meus cabelos se prende,
promove a saudade daquela que se foi.
Queria eu te dedicar quarenta flores belas,
pintadas em quarenta telas, aquarelas,
pelos anos de tua inauguração,
para que o tempo não as toque com o fim,
como toca na gente,
como toca nos outros.
Mas se te dedico esta poesia prematura
é por que a maturidade é condição que não possuo.
Vejo em você o silêncio que intercala os versos de uma grande poesia.
Uma suspensão do tempo há nos teus olhos
quando esquadrinham a ordem das coisas,
e que, demasiadas pungentes, fazem te calar.
Vejo em você as paixões não reveladas
ou que, quando muito ditas, vieram a se enjoar pelos cantos.
É um bem querer mais que bem querer,
mas que, ao se confundir com a razão dos projetos,
desvia-se das utopias dos românticos,
esquiva-se dos cantos das sereias.