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Toda espera silencia...


Há um alvo e nada mais.
Não há calma, nem há dor.
Um alvo-retrato, memorável,
marcando o muro e em silêncio.

Aguarda um tiro que ultrapassa o tempo:
um tiro de flores não dadas, secas.
um tiro do verbo conjugado AMAR,
de futuro, progresso sem prudência,
de tudo aquilo que calou-se um dia.

Toda espera emudece e range.
E todo desejo quem ordena é o ego.
O homem não é homem sem futuro,
a ideia é alimento e o hoje não existe.
O hoje é o que ontem fora, logo em um segundo.
E no fim da ideia eis o fato.
E a ideia no fim é ela mesma.
É um gatilho, a própria bala...
Que tira do alvo o grito.

Ensaio

Mais uma vez, apenas uma, e todos os corpos já não medirão distâncias entre si.

As bocas não saciarão, mas calarão toda vontade sobre-humana.
Há um espaço, uma fresta que foi esquecida de ser fechada,
e um lamento de passado que por entre esses espaços se abafa
e lá permanece calado em forma de coração.

A pele palpita e todo toque é um desatino.
O amor é matéria efêmera tal como um sorriso.
Um movimento interrupto de corpos.
Um toque que anuncia riscos.

Nos cômodos da casa sentimos a memória:
e a memória cheira a fim.
Perdeu-se pelos dedos e foi-se embora
Não há certezas nem há dúvidas por aqui.

Procura-se um invólucro decente.
O meu peito já não me protege.

Mais outra vez, apenas outra e o que nos resta são esperas
de fragmentos de um presente ao um futuro que se quebra.
Basta um golpe de intensidade e a vida ao fim se entrega.

O amor é um quarto que se aluga.
E o meu peito já não o protege.



Entre braços, abraços latejam,
encontram-se e se perdem
pelas fronteiras do ser.

A solidão é um abraço frio
num quarto escuro.
Cadê?

A nudez do peito se cobre de mármore,
e o sensível de ser é uma casca que sobra.

Muros, cômodos, bocas mudas.
Toda fronteira resiste:
o corpo persiste em ensurdecer.

ana tereza barboza

ana tereza barboza
Grafito y bordado en tela. 130 x 102 cm (2011)