Pra se alimentar de sonhos
às vezes tem que ser igual criança.
Levar à boca em colheradas de vento
a impressão imaginada do doce.
Agora meu irmão refaz o gesto
fingido de alimentar vazios.
E abre e mastiga e fecha
apurando o sabor da coisa
que podia ser tudo.
Enquanto tateio problemas
e farelos de pão descobertos
entre as dobras da toalha da mesa,
minha avó diz que às vezes suas ideias
são vento num vazio dos grandes:
Dá medo isso de não ter chão pra pisar?
(O doce da vida seria talvez a imaginada colherada de vento
na boca)